domingo, 9 de novembro de 2008

UMM regressam à Baja de Portalegre

UMM regressam à Baja de Portalegre
Quatro à partida, quatro à chegada...
A corrida vista por dentro, a bordo de um dos saudosos jipes nacionais.
Rui Cardoso
15:05 Sexta-feira, 7 de Nov de 2008

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Rui Casimiro/Rui Cardoso a bordo de um dos primeiros jipes da série especial Troféu













Depois de Luís Porém ter corrido em UMM, o seu filho Ricardo e André Carvalho pegam no testemunho








João Cândido e João Costa, outra equipa da nova geração a bordo de um carro de sempre






Um cartaz de propaganda da UMM, tão velho que o carro da fotografia ainda é um "Cournil", proclamava, orgulhosamente, a propósito do 5º Paris-Dakar: "Numa prova com 89% de desistências, quatro à partida, quatro à chegada!". Estávamos em 1983. 25 anos depois, a história repetiu-se, mas nas pistas de Portalegre. Partiram quatro UMM Troféu ... e chegaram todos ao fim. E mesmo ficando muitíssimo abaixo das "bombas", na classificação conjunta FIA/Evento Nacional, nenhum dos jipes nacionais ficou nos três últimos lugares da tabela.
Exactamente por isto, a cerimónia de distribuição dos prémios teve dois momentos que comoveram todos os presentes. Primeiro, quando Tucha e Sousa subiram ao palco, vestidos com t-shirts da UMM, para receberem a taça referente à vitória na 'Promoção A'. E, depois, quando João Luz (o ex-pendura de Carlos Sousa, lembram-se?), que navegou Ricardo Leal dos Santos nesta corrida, se levantou penosamente da cadeira de rodas para abraçar José Megre, ele próprio a recuperar de uma melindrosa intervenção cirúrgica. Foram dois momentos em que, embora por razões diferentes, a sala veio abaixo com tanto aplauso.

Tucha reconstruiu completamente o PD-27-80 com que tinha ganho o Portalegre há 20 anos. E, para a evocação ser perfeita, até cortou o bigode, ficando outros tantos anos mais novo. Seguiram-se na classificação, dois lugares abaixo, Ricardo Porém (filho de Luís Porem que também correu nos UMM dos velhos tempos) e André Carvalho. Mais dois lugares abaixo, ficaram João Cândido e João Costa que, também andando pelos 20 anos de idade, tiveram um gesto digno da velha guarda do TT: rebocaram nos últimos quilómetros do troço de domingo o Opel Manta de Pedro Ruivo e José Porto. E, mais dois lugares abaixo, o Rui Casimiro (que ganhou o primeiro Portalegre a solo) e o autor desta crónica. A corrida, pela parte que nos toca, foi cheia de peripécias. No sábado de manhã, uma ramada baixa de sobreiro deixou-nos o pára-brisas transformado numa mira concêntrica. Se ler o terreno já é difícil nesta prova, imagine-se com o vidro cheio de raios e o sol a bater no meio... À tarde, nada a assinalar, a não ser, já com a luz a finar-se, uma velha pecha dos UMM Troféu: o gasóleo deixa de correr de um depósito para o outro. Com uma mangueira, ainda se improvisou a trasfega. O pior é que o motor de arranque estava asmático e para ferrar a bomba foi preciso empurrar o carro até cair para o lado. Foi nessa altura que comecei a achar que as vacas do outro lado da vedação tinham ar de estar a gozar connosco... Daí até Portalegre foi um sufoco, com o carro sempre a falhar. À saída da ribeira do prólogo o motor não dava rotação para subir mas umas redutoras metidas em andamento (em tantos anos no TT sempre aprendemos uns truques...) salvaram a etapa. Na assistência, Bruno Barbosa, filho do Tucha, reparou que tínhamos um apoio de motor partido. Nada que uma cinta de roquete, comprada num dos hipermercados vizinhos não resolvesse. Domingo de manhã, trocámos ao volante e lá voltei às pistas de UMM, tantos anos depois. Na fila para a tomada de tempo, o Rui, entre gargalhadas do público, colou na mica esquerda um cartaz que estava caído no pinhal: "Proibido vazar lixo...". Lá largámos na penúltima posição e o sol no vidro ia-me logo fazendo passar por cima da primeira pedra mas, aos poucos, a vista foi-se focando melhor. Tanto que, num cruzamento de pistas, levantámos voo. Dizia o meu homónimo: "Olha lá, que se eu quisesse voar tinha comprado um ultra-leve..."

Passámos pelo carro de Porem Jr que estava com outro mal crónico dos UMM, o cabo de acelerador partido e também pelos dois Jões, a braços com problemas eléctricos. Os nossos companheiros de corrida do dia anterior, Vítor e Daniel Belejo, a bordo de uma indestrutível Nissan Q, fugida de Angola, após a independência, pelos areais da Namíbia, também tiveram que encostar para resolver um problema mecânico e atrasaram-se. Tudo ia bem até que o motor começou a "cortar" quando passava das 2.000 rotações. "Toma, bruxa de um raio!" dizia eu, enquanto era obrigado a meter uma acima para a mecânica não se embrulhar toda. Mas não foi por isso que não passámos a temida ribeira da Comenda logo à primeira. Os últimos quilómetros eram uma verdadeira auto-estrada para jipes, com 10 km de estradão, ainda melhor que o de Coruche. Que desperdício, com o motor assim. Prudente, o Rui ia avisando: "Vai com calma que falta pouco! Não mates a bruxa antes de lá chegarmos!" Mas, mesmo com o carro a arrastar-se, era a festa nos controlos de cruzamento. Até os GNR batiam palmas... Os Jões já tinham voltado a passar por nós mas pararam para o "beau geste" de rebocar o Manta. E nós ainda tivemos o prazer de passar um Jimny, embora este não fosse num andamento propriamente alucinante. À vista da meta, a bruxa arrebitou, e lá fizemos as duas últimas curvas do prólogo bem atravessados para dar alegria ao público. O Tucha já estava em Portalegre há um bom bocado e os dois UMM que faltavam não tardaram a aparecer uns minutos depois. Completava-se a nossa combinação à partida para o prólogo: isto é como os pára-quedistas, não se deixa nenhum camarada para trás...