UMM A4 - revista TURBO
Mostramos-lhe em exclusivo o sucessor do UMM Alter II que a marca nunca chegou a lançar no mercado.
Oprometido é devido. Tal como afirmámos na Turbo de Dezembro de 2007 (n.º 315, p. 87), aqui lhe mostramos de novo, e com todo o detalhe, aquele que pode ser o único protótipo completo da última geração UMM, que nunca chegou a entrar na linha de produção. Este é o chassis n.º 3 do projecto A4, agora já restaurado e pronto a assegurar um lugar eterno na restrita lista de exemplares únicos da lendária marca portuguesa.O protótipo A4 foi concebido em 1991 e tinha a missão de dar continuidade à marca, depois do Alter II. Mas o destino traçou o fim da UMM durante o processo e este protótipo, praticamente completo e pronto a circular, ficou abandonado, até há cerca de um ano, altura em que foi descoberto pelo actual proprietário, um dos mais acérrimos defensores da UMM. Não podia ter caído em melhores mãos. Hoje, completamente restaurado e mantido com todos os cuidados, brilha nas fotos como no dia em que nasceu, ou talvez mais até, porque o seu fabrico não foi totalmente finalizado. Mas qual é, afinal, a diferença entre este UMM, ainda sem nome de baptismo, e os anteriores?
Caso únicoEmbora estejamos a falar de um projecto com 17 anos, torna-se desde logo evidente o maior cuidado desta geração inacabada no que diz respeito à estética e à aerodinâmica. Esta unidade já se encontrava matriculada como comercial ligeiro, apresentando, por isso, apenas dois lugares dianteiros e duas portas. Mas a frente, de formas bastante mais harmoniosas, e a grande superfície vidrada, a começar pelo pára-brisas, já com duas escovas ancoradas na base e não em cima, demonstram bem a clara aproximação aos conceitos mais modernos, o que denuncia a intenção da UMM de tornar esta geração mais 'civil' em termos de conforto de utilização.
O habitáculo confirma esta orientação. Pela primeira vez, encontramos num UMM alguns requintes, como bancos e espelhos retrovisores com comando eléctrico e iluminação nos pedais, para além dos vidros também eléctricos e até um painel frontal diferente dos anteriores, já moldado e a incluir uma caixa para arrumações entre os bancos e uma instrumentação mais centrada e completa, transplantada do Peugeot 405. Esta 'colagem' directa de elementos vindos de veículos pré-existentes pode ter sido apenas uma solução rápida para dar forma a um protótipo, mas estas partilhas poderiam ter avançado para a produção, o que não seria surpresa numa UMM que nasce de uma filosofia de conciliação de soluções, a começar pelo primeiro de todos, o Cournil, que no princípio não era mais do que um Jeep Willys, da Segunda Guerra Mundial, adaptado ao trabalho agrícola pelo francês que lhe deu o nome, Bernard Cournil. Mais tarde, a portuguesa União Metalo-Mecânica (UMM), integrada no grupo Mocar, adquiriua licença e os direitos de comercialização da marca que, ao longo da sua história, recorreu a tecnologia Peugeot.
A solidez de sempreApesar da reorientação estilística, este UMM que não chegou aos stands nunca perdeu de vista os motivos de afirmação da própria marca, assentes na elevada resistência e na grande capacidade de progressão em todo-o-terreno. Tem um robusto chassis que já concilia longarinas com uma carroçaria autoportante, mas mantém os eixos rígidos. Pela primeira vez na marca surgem molas helicoidais tanto à frente como atrás. O resultado é um nível de conforto de suspensão muito mais elevado, com um assinalável rebatimento da suspensão, que mantém as rodas em contacto com o chão, ajudando muito nas zonas mais trialeiras.
O novo UMM tinha também como objectivo uma maior agilidade e suavidade de funcionamento, mas este protótipo recebeu ainda o motor 2.5 TD, de 110 CV, utilizado no Peugeot 505 GRD, que já para a época em que o A4 foi concebido ficava abaixo dos padrões de qualidade exigíveis, principalmente devido ao excessivo ruído e vibrações. É provavelmente um detalhe que, de transitório, passou a definitivo. O resultado final em termos de performance é impossível de medir, até porque não é seguro se os diferenciais Dana 44 de escalonamento curto com que o protótipo A4 está equipado seriam também para ficar. Por outro lado, o sistema de transmissão vem do Alter II, com uma alavanca manual para a selecção entre tracção traseira ou 4x4 e outra para engrenamento das redutoras. No caso de optar pela tracção total o condutor tem de sair do carro e acoplar os cubos de roda dianteiros. Um exemplar como este, praticamente completo no que diz respeito à integração de componentes, mas ainda a alguma distância do que poderia ter sido o produto final, torna-o ainda mais curioso e valioso.
Panóplia de soluçõesNa frente encontramos ópticas da Ford Transit, os puxadores das portas do Land Rover Defender da época, os retrovisores do Range Rover Classic e os farolins traseiros do comercial Citroën C15. Se a isto somarmos os elementos interiores transplantados, em geral, da Peugeot, ficamos com uma ideia da forma como a UMM estava a 'montar' o seu modelo sucessor. O mais curioso é que esta panóplia de soluções resulta num efeito visual harmonioso e, ao mesmo tempo, desportivo e robusto, bem de acordo com a imagem de marca da UMM.
O improviso também está ainda patente nalguns detalhes do 98-66-EU, em especial na porta traseira, que tem um vidro sem moldura, acoplado a dois suportes verticais. A própria carroçaria recebeu a tinta directamente na chapa, sem direito a tratamento anticorrosão. Esse tratamento foi-lhe aplicado durante o meticuloso processo de restauro levado a cabo pelo novo proprietário. O habitáculo precisou de novos forros e borrachas de isolamento, mas a mecânica teve pouco trabalho para começar a funcionar. Bastou sangrar todos os líquidos, limpar e atestar os reservatórios. O resultado final é um UMM sem irmãos 'vivos' nem descendentes, digno de ser exibido em qualquer espaço destinado a contar a história de uma marca portuguesa que dificilmente será esquecida.O projecto A4 foi abandonado em 1994 e consta que apenas foram produzidos três exemplares. Este é o único que se encontra em estado perfeito.
Artigo publicado na revista nº321 de Junho de 2008